AIDS
A síndrome de deficiência imunológica adquirida(AIDS) gerou
crescente preocupação em 1986, à medida que as autoridades
sanitárias se compenetravam da amplitude das implicações da
doença e de suas dimensões internacionais. Embora a taxa de
crescimento nos casos entre homossexuais nos EUA tenha declinado
rapidamente, apontou-se um perigo muito maior em áreas da África
Tropical, onde o vírus da AIDS é transmitido através da
atividade heterossexual.
Manifestou-se entre epidemiologistas o temor de que alguns
governos, desejosos de ocultar a realidade, relutassem em adotar
medidas rigorosas para deter a disseminação do vírus HIV. Mas
a dimensão política alterou-se substancialmente em setembro de
1987, por efeito de um estudo segundo o qual a AIDS, ao contrário
do que até então se supunha, não tinha surgido na África
antes de aparecer na costa ocidental dos EUA. Uma pesquisa, que
envolveu mais de 6.000 pessoas, revelou que antes de 1985 eram
extremamente raros na continente africano os anticorpos contra o
vírus da AIDS, e, conseqüentemente, as infecções pela doença.
Pesquisadores norte-americanos localizaram pela primeira vez o vírus
da AIDS em secreções vaginais e cervicais de mulheres, o que
revelou uma nova rota possível de transmissão. Houve, porém,
notícias tranqüilizadoras para compensar os temores que a doença
pudesse ser transmitida por picada de insetos nos países de
Terceiro Mundo. Somando-se as provas circunstanciais, como
raridade em casos de AIDS em crianças (freqüentemente mordida
por mosquitos), estudos de laboratório na Escola de Higiene e
Doenças Tropicais de Londres indicaram que a contaminação por
picadas de insetos é altamente improvável.
Foram também anunciados em 1986 os primeiros resultados dos
esforços no sentido de produzir um remédio para combater a
infecção. Dados preliminares publicados em maio revelem que a
ATZ ( 3'-azido-3'deoxitimidina), produzidas pelos cientistas em
laboratórios de pesquisa Wellcome, na Carolina do Norte, EUA, e
Kent, Inglaterra, tinha sido benéfica para algumas vítimas da
AIDS. E em setembro, o serviço de saúde pública das EUA
anunciou que ficara tão impressionado com o aumento do peso e a
melhora sintomática num grupo muito maior, de 282 pacientes, que
tomara a decisão extraordinária de deixar de lado rigorosas
medidas de avaliação de drogas novas e tratar com ATZ pessoas
às quais até então era ministrado um inócuo placebo. Naquela
altura, após seis meses de tratamento, houvera apenas um óbito
entre os pacientes que tomavam a droga, contra 16 óbitos no
grupo placebo.
Os Laboratórios Wellcome(cujas ações subira abrutamente diante
da notícia do sucesso no tratamento da AIDS) e as autor9idades
da saúdes pública acentuaram, contudo, que não havia prova que
a doença fosse curável. Era possível que a atenuação de seus
efeitos ocorresse apenas num subgrupo de pessoas afetadas.
Os Laboratórios Wellcome enfrentavam o problema da aguda
escassez de timidina, o material a partir do qual a ATZ é
sintetizada. Essa circunstancia ameaçou comprometer a aplicação
da droga ao crescente número de vítimas da AIDS, especialmente
na África.
Simultaneamente às pesquisas no campo de quimioterapia,
prosseguiram os esforços no sentido de uma vacina contra a AIDS,
apesar do quebra-cabeça específico de como ativar o sistema
imunizador do organismo se a manifestação da doença consiste
justamente em destruir esse sistema. Um destacado imunologista, o
professor Aurion Mitchison, do University College, de Londres,
opinou que o caráter devastador da enfermidade justificaria a
experiência de se usar vírus mortos da AIDS como vacina(como se
faz há décadas com a febre amarela). Entretanto, os possíveis
riscos dessa estratégia e os aspectos legais que ela comporta
foram suficientes para fazer com que os pesquisadores usassem métodos
mais cautelosos. Um caminho que levou a um significativo sucesso
baseou-se na idéia de incorporar partes do vírus da AIDS ao da
vacina(varíola bovina), usada anteriormente para a prevenção
da varíola. Em setembro, cientistas de duas companhias
norte-americanas comunicaram haver testado essa vacina em
macacos. Obtida mediante introdução, na vacínia, dos genes que
codificam proteínas no invólucro do vírus da AIDS, essa vacina
induziu os macacos a produzirem anticorpos contra as proteínas e
gerarem linfócitos defensivos da espécie que é atacada pela própria
AIDS.