Getúlio Dornelles Vargas
1930-1937
As eleições da Constituinte se realizaram, dando um número de
representantes aqueles que se podiam classificar sintonizados com
as antigas oligarquias, apesar de em número menor estarem
representantes classistas eleitos por sindicaros. Havia ainda uma
perigosa corrente que, apesar de reconhecer as falhas do antigo
regime preconizavam um estado forte, regulador das tensões
sociais, dirigido por uma elite política transformadora (mais
fascista). A nova constituição foi portanto uma soma destas três
tendências.
São as mais importantes características da Carta de 1934 as
seguintes:
oPoder executivo com direito de intervenção nas áreas política
e econômica. Os ministérios deveriam adotar uma assessoria técnica;
oPoder legislativo eleito proporcionalmente ao número de
habitantes de cada Estado, evitando-se que os estados-membros
populosos tivessem grandes representações. Seriam eleitos pelo
voto secreto universal. Havia deputados eleitos indiretamente por
sindicatos; oOnda de nacionalismo (limitação a imigração,
nacionalização de empresas de seguros, do subsolo nacional) e
das comunicações (restrito inicialmente à imprensa; oCriação
do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, dando
garantias mínimas ao trabalhador brasileiro, pela primeira vez;
oCriação da Justiça Eleitoral (garantindo a lisura das eleições)
e da Justiça Militar; oEleições indiretas para o 1o.
Presidente constitucional: vence Getúlio Vargas, derrotando
Borges de Medeiros.
O Tenentismo é, assim, completamente superado, pois suas antigas
propostas são esvaziadas através das conquistas da nova
constituição. As oligarquias conservadoras estão garantidas e
restauradas no poder e os "direitistas" satisfeitos com
o poder do Estado, regulador das tensões.
A partir de 1934, crescem no Brasil duas tendências políticas.
A primeira delas era o nazi-fascismo; a segunda, o socialismo
marxista. Ambas criticavam o Estado burguês-liberal e a
"democracia" por ele desenvolvida. Contudo elas possuíam
diferenças inconciliáveis.
O fascismo brasileiro (integralismo), conhecido pela sigla de AIB
(Ação Integralista Brasileira), foi criado por Plínio Salgado
em 1932. Preconizava a criação de um Estado ditatorial
ultranacionalista e anticomunista. Este fascismo caboclo
impressionava a classe média, o alto clero, parcelas reacionárias
da sociedade em geral. Os membros ativos da AIB usavam uniformes
verdes, o sigma grego que parece um "E" como logativo
do partido e uma saudação ("Anauê!"), como a dos
nazistas. Os integralistas alimentavam o sonho de atingir o poder
com o apoio de Vargas.
A corrente contrária denominava-se ANL (Aliança Nacional
Libertadora). Congregava as oposições à Vargas, tendo uma
linha discretamente socialista marxista. A ANL opunha-se a todos
os totalitarismo de direita, preconizando a criação de um
Estado democrático, popular, extinguindo a propriedade privada
nos meios de produção. O crescimento da ANL, sob o comando de
Luís Carlos Prestes, incomodava as elites dirigentes e as que
sonhavam com o poder (a AIB, por exemplo). Vargas, pressionado
pelas oligarquias, inicia a repressão dos membros da ANL,
obrigando-os a agir na clandestinidade. O Partido Comunista do
Brasileiro que se associara à ANL opta pela revolução armada
para tomar o poder. Um levante difuso, heterogêneo, mal
planejado, mal executado, ao final de novembro de 1935 é
sufocado por Getúlio, que decreta estado de sítio. O levante é
conhecido com o nome de Intentona Comunista. O estado de sítio
se prolonga até o ano seguinte, toda oposição de esquerda foi
reprimida violentamente.
No plano econômico, Vargas era um tanto nacionalista, evitando
ao máximo a entrado do capital estrangeiro. Foi nesse período
também que aumentou a intervenção estatal na economia. O
Estado participava como um planejador econômico. Posteriormente,
durante o estado novo, o Estado passou a ter grandes empresas e
passou a participar da economia não só através do
planejamento, mas também como um investidor.
No início de 1937, as várias correntes políticas iniciam a
movimentação para as eleições à presidência. São lançados
candidatos: Armando Sales (oligarquias paulistas), José Américo
de Almeida (paraibano, apoiado pelos "getulistas") e Plínio
Salgado (forças de ultradireita). No entanto ninguém conta com
o apoio concreto de Vargas, e por um motivo simples: ele não
quer sair da presidência. Para tanto, contava com o apoio dos
grupos dominantes conservadores (temerosos do comunismo), dos
integralistas (defensores de um Estado forte) e de militares,
como o Ministro da guerra (Eurico Gaspar Dutra), o chefe do
Estado-Maior (Goes Monteiro) e o Secretário de Segurança Pública
do Rio de Janeiro (Filinto Muller).
Os políticos começaram a desconfiar dos planos golpistas de
Vargas logo que ele começa a afastar militares legalistas do
comando em áreas estratégicas e em seus lugares nomear oficiais
de sua confiança. Para dar mais "veracidade" à
necessidade de um golpe, forjou-se um plano mirabolante, através
do qual os comunistas tomariam o poder: era o Plano Cohen. A
fobia ao comunismo feita através de hábil propaganda facilitou
ao governo conseguir a decretação de um estado de guerra em
plena paz e a adesão de vários governadores. Neutralizadas as
oposições de esquerda (desde 35 abatidas), não foi difícil a
Vargas esvaziar a resistência liberal. A 10 de novembro de 1937,
o Congresso foi cercado, a resistência liberal denominada e uma
constituição outorgada (redigida por Francisco Campos). Começa
aí a segunda parte do governo Getúlio Vargas.
Após a implantação do Estado Novo, com um novo golpe de
Estado, continua na presidência, ditatorialmente, Getúlio
Vargas. O período de Estado Novo é, ao mesmo tempo, de grande
avanço nas políticas sociais e econômicas, sobretudo através
da implantação de uma ampla legislação trabalhista - para os
trabalhadores urbanos - e de apoio à industrialização,
mediante projetos oficiais na área siderúrgica e petrolífera.
Para centralizar o controle da burocracia oficial, Getúlio
Vargas cria, em 1938, o Departamento Administrativo do Serviço Público
(Dasp). Em 1939, cria o Departamento de Imprensa e Propaganda
(DIP), com a tarefa de divulgar as ações do governo - sobretudo
na Hora do Brasil - e controlar ideologicamente os meios de
comunicação. Para estimular e controlar o sindicalismo operário,
são ampliados os serviços estatais de aposentadoria, criados em
1940, o imposto sindical e o salário mínimo, e posta em vigor a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), em 1943. O imposto
sindical era um imposto que todo trabalhador era obrigado a
pagar, que o governo repassava para o sindicato. Os sindicatos na
época não eram tão fortes quanto hoje e eram mais como
"clubes" do que organizações de reivindicações.
Assim, o governo manipulava os sindicatos, manipulando assim
todos os trabalhadores.
No campo econômico, Getúlio Vargas avança no controle estatal
das atividades ligadas ao petróleo e combustíveis através da
criação do Conselho Nacional do Petróleo, em 1938. Estimula a
indústria de base com a fundação da Companhia Siderúrgica
Nacional (CSN) de Volta Redonda, no Rio de Janeiro, em 1941, e
obtém financiamento norte-americano para instalação da Fábrica
Nacional de Motores, no Rio de Janeiro, em 1943. Inaugura também
a Companhia Vale do Rio Doce, para explorar minérios. A fim de
contribuir com a formação de mão-de-obra especializada para o
setor industrial, funda o Serviço Nacional da Indústria
(Senai), em 1942, e o Serviço Social da Indústria (Sesi), em
1943.
Fim do Estado Novo - A participação do Brasil no esforço de
guerra dos Aliados, em defesa da democracia e contra o
totalitarismo nazista e fascista, afeta a estabilidade do regime
ditatorial interno. Cresce a oposição social e política ao
Estado Novo entre intelectuais, estudantes, religiosos e empresários.
Vargas, apesar de todo o aparato de repressão - com um grande número
de prisões, assassinatos e deportações de adversários do
regime -, não mantém mais o controle da situação. Passa, então,
à ofensiva e, no início de 1945, anuncia eleições gerais para
o final do mesmo ano, com o general Eurico Gaspar Dutra, ministro
da Guerra, como seu candidato. As pressões de setores da
burocracia e do trabalhismo para que o próprio Getúlio dispute
as eleições criam a desconfiança das oposições, que se
movimentam com a cúpula militar e articulam o golpe de 29 de
outubro de 1945. Os ministros militares destituem Getúlio Vargas
e passam o governo ao presidente do Supremo Tribunal Federal, José
Linhares, até a eleição e posse do novo presidente da República,
o general Dutra, em janeiro de 1946.