Renascimento
O Renascimento,
movimento artístico, científico e literário que floresceu na Europa entre o
período corresponde à Baixa Idade Média e início da Idade Moderna (do século
XIV ao XVI). Os humanistas valorizavam os temas em torno do homem e a busca de
conhecimentos e inspiração nas obras da antigüidade clássica.
Os
humanistas consideravam a Idade Média
um período de “Trevas Culturais”, por terem sido esquecidos os modelos da
cultura greco-latina. O pensamento medieval, dominado pela religião, cede lugar
a uma cultura voltada para os valores do indivíduo. Os artistas, inspirando-se
uma vez mais no legado clássico grego, buscam as dimensões ideais da figura
humana e a representação fiel da realidade. Embora grandes admiradores da
cultura clássica, os artistas e intelectuais do Renascimento, adquirindo maior
confiança na sua própria capacidade, não se limitaram a imitar os modelos
antigos passaram a buscar inspiração na natureza que os cercava.
Esse
movimento, cujo berço foi a Itália, teve em Florença e Roma seus dois centros mais
importantes.
E
pode ser dividido em Duocento (1200 a 1299), Trecento (1300 a 1399),
Quattrocento (1400 a 1499) e Cinquecento (1500 a 1599).
Duocento e
Trecento – No século XIII, o gótico começa a dar lugar para uma arte que resgata
a escala humana. São as primeiras manifestações do que, mais tarde, se chamaria
Renascimento. A principal característica dessa mudança é o surgimento da ilusão
de profundidade nas obras. Em Siena, Duccio da Buoninsegna e, em Florença,
Cimabue e sobretudo seu aluno Giotto são os pioneiros desse novo mundo. Nos
afrescos de Giotto, na igreja de Santa Croce, em Florença, por exemplo, pode-se
ver figuras mais sólidas do que as góticas, situadas em ambientes
arquitetonicamente precisos, dando impressão de existência concreta: é o
nascimento do naturalismo. No século XIV, escultores como Donatello (o
"Michelangelo" do Trecento) aprimoram a técnica.
Giotto da
Bondone (1266?-1337?), pintor e arquiteto italiano. Nasce em Florença, estuda
com o pintor Cimabue, com quem trabalha também em Roma, e se torna um dos
principais artistas de sua época. Os afrescos de Santa Croce e a torre do Duomo
são suas principais obras em sua cidade natal. Revoluciona a arte ao conseguir
dar expressão e profundidade às figuras humanas.
Quattrocento – No século
XV, Piero della Francesca (afrescos na catedral de Arezzo) desenvolve uma
pintura impessoal e solene, misturando figuras geométricas e cores intensas. O
arquiteto e escultor Filippo Brunelleschi, criador da cúpula do Duomo de
Florença, concebe a perspectiva, artifício geométrico que cria a ilusão de
tridimensionalidade numa superfície plana. Defende a técnica e seus princípios
matemáticos em tratados. A ela aderem artistas como Paolo Uccello (Batalha
de São Romano), Sandro Botticelli (Nascimento de Vênus), Leonardo da
Vinci (Mona Lisa), Michelangelo (Davi, Moisés e Pietá; teto e
parede da Capela Sistina, no Vaticano; cúpula da Basílica de São Pedro).
Michelangelo chega a um grau de sofisticação representativa que prenuncia o
barroco em suas figuras. Na Bélgica e Holanda, nesse período, surgem os
representantes do renascimento flamengo como Jan van Eyck, Hans Memling e
Rogier van der Weyden, que desenvolvem a pintura a óleo.
Rafael Sanzio (1483
- 1520), que se destacou por suas Madonas, série de quadros da
Santíssima Virgem, diversos painéis nas paredes do Vaticano e várias cenas da
História Sagrada, conhecidas com Bíblias de Rafael.
Donatello
(1386?-1466), escultor italiano. Donatto di Bardi nasce em Florença, começa
como ourives e aos 17 anos aprende a esculpir em mármore. Inicia-se, como
assistente, nas portas do batistério de Florença e realiza uma obra imensa.
Esculturas como Davi, Madalena e São Jorge estão entre as mais marcantes, por
seu poder de produzir tensão emocional.
Leonardo da Vinci (1452-1519), artista, arquiteto,
inventor e escritor italiano. Nasce em Florença, se torna aprendiz de Andrea
Verrocchio e recebe a proteção de Lorenzo de Medici. Entre 1482 e 1499 vive em
Milão, onde pinta o afresco da Última ceia. Em Florença, entre 1503 e
1506, pinta a Mona Lisa. Vive em
Roma, entre 1513 e 1517, onde se envolve em intrigas do Vaticano, e
decide ir se juntar à corte do rei francês Francisco I. Nos estudos
científicos, prenuncia a invenção de peças modernas como o escafandro, o
helicóptero e o pára-quedas. Seu Tratado sobre a pintura é um dos livros
mais influentes da história da arte. O maior representante do Renascimento, Da
Vinci inaugura o antropomorfismo em sua arte e pensamento: “O homem é a medida
de todas as coisas”.
Michelangelo
Buonarroti (1475-1564) escultor, pintor, poeta e arquiteto italiano. Nasce em Caprese,
estuda em Florença e ganha a proteção de Lorenzo Medici. Em Roma, aos 23 anos,
inicia a Pietá. De volta a Florença, esculpe Davi e pinta A
Sagrada Família. Em 1508 começa a pintar sozinho os afrescos do teto da
Capela Sistina, trabalho que dura quatro anos. Em 1538 pinta a parede do Juízo
Final, na mesma capela. Oito anos depois, projeta a cúpula da Basílica de
São Pedro. Ao mesmo tempo, retoma a Pietá e esculpe também a Pietá
Palestrina e a Pietá Rondanini.
Cinquecento – Em Veneza,
no século XVI, com pintores como Tintoretto, com sua grandiosidade, Ticiano,
com seu uso de cores, Veronèse, com seu senso espacial, e Giorgione, com sua
expressividade, começa a última fase do Renascimento. Abandonam a primazia da
forma sobre a cor e a perspectiva rigorosa. Na Espanha, influenciado por
Tintoretto, El Greco (pseudônimo de Domenico Theotokopoulos) alonga as figuras,
usa cores mais expressivas e contrastes dramáticos de luz e sombra (O
enterro do conde de Orgaz). Na França, além do maneirismo (o naturalismo levado
ao máximo de detalhes e efeitos) da Escola de Fontainebleau, destacam-se os
retratos alegóricos de François Clouet (Diana). Na Holanda, Pieter
Bruegel cria uma rica pintura narrativa, documentando costumes de época (Caçadores
na neve), e Hieronymus Bosch pinta figuras oníricas, em cenários
fantásticos, repletos de simbolismo (O jardim das delícias terrenas). Na
Alemanha, surge uma pintura mais clássica, próxima do renascimento
romano-florentino. O grande mestre é Albrecht Dürer, que influencia Lucas Cranach,
Albrecht Altdorfer, Matthias Grünewald e os dois Hans Holbein, pai e filho.
Jacopo Robusti
Tintoretto (1518-1594), pintor italiano. Nasce em Veneza. Pouco se sabe de sua
vida. Em 1564, pinta cenas do Velho Testamento no teto da irmandade de San Rocco,
da qual é membro. Influenciado por Michelangelo e Ticiano, experimenta
composições grandiosas e efeitos de luz que influenciam a arte posterior.
Revoluciona a forma narrativa, modificando a hierarquia clássica das histórias
religiosas.
PRÉ-RENASCIMENTO
Desde
o século XIII, surgem manifestações precursoras do espírito humanista que
marcará o Renascimento. O processo de depuração da teologia se deve a Santo
Tomás de Aquino, cuja filosofia incorpora conceitos de Aristóteles; Francesco
Petrarca, no Cancioneiro, glorifica o amor na sua poesia lírica e fixa a forma
do soneto; Dante Alighieri faz a síntese da alma medieval com o espírito novo;
Giovanni Boccaccio, no Decamerão, faz impiedosa radiografia da sociedade de seu
tempo. Outros nomes importantes nessa fase de transição: os poetas franceses
Guilherme de Orleãs, de delicado lirismo, e François Villon, cujo Grande
testamento é um amargo testemunho sobre a condição humana nessa época; e
Geoffrey Chaucer, cujos Contos de Canterbury, em versos, sintetizam os costumes
e a cultura ingleses do século XV.
Dante
Alighieri (1265-1321) nasce em Florença e por questões políticas é obrigado a
se exilar, morrendo em Ravena. Em Sobre a língua do povo, escrita em latim para
os eruditos da época, Dante defende o uso do italiano nas obras poéticas. E é
nessa língua que ele escreve a Divina Comédia, considerada a primeira obra da
literatura italiana. Esse relato, de uma viagem imaginária pelo inferno,
purgatório e paraíso, é uma alegoria do percurso do homem em busca de si mesmo.
Giovanni
Boccaccio (1313-1375) é filho de um mercador da região da Toscana, Itália. Seu
pai o faz estudar em Nápoles e Florença. Boccaccio lê os clássicos latinos e
escreve poesias. Decamerão, escrito em prosa, traz cem histórias curtas
contadas por três moças e sete rapazes que se refugiam no campo para fugir da
peste negra. Nas histórias se chocam os valores cristãos e o espírito
libertino, sinais da transição para o renascimento.
Marcada
pela consolidação do capitalismo mercantilista (século XV a meados do século
XVI), é muito livre em relação às imposições morais, levando a uma atitude de
epicurismo e busca de uma moral naturalista. Nasce uma atitude
antropocentrista, semelhante à da Antiguidade clássica, em oposição ao
teocentrismo medieval. A natureza é o modelo básico para o conhecimento humano.
A influência
greco-romana está presente nos Lusíadas, de Luís de Camões; na poesia pastoral
de Angelo Poliziano; nos escritos eróticos de Pietro Aretino; e na lírica do
espanhol Jorge Manrique, dos franceses Joachim du Bellay e Pierre de Ronsard,
ou dos portugueses Sá de Miranda e Cristóvão Falcão. Aumenta o interesse pela
cultura, em seus termos mais abrangentes, no Elogio da loucura, do holandês
Erasmo de Roterdã; em O príncipe, de Nicolau Maquiavel, pragmático manual da
arte de governar; ou nos romances satíricos de François Rabelais, Gargantua e
Pantagruel.
Luís de Camões
(1525?-1580), freqüenta a nobreza e os círculos boêmios de Lisboa. Viaja muito,
chegando até a Índia e a China, quase sempre a serviço do governo português.
Sua obra mais importante, Os Lusíadas (1572), funde elementos épicos e líricos.
Mescla fatos da história portuguesa às intrigas dos deuses do Olimpo, que
buscam ajudar ou atrapalhar Portugal. Sintetiza duas importantes vertentes do
renascimento português: as expedições ultramarinas e o humanismo.
François
Rabelais (1493-1553) viaja pelo interior da França como padre e entra em
contato com dialetos, lendas e costumes que influenciam sua obra. Em 1530,
abandona o hábito e estuda medicina. A epopéia de Pantagruel e seu pai
Gargantua, gigantes de apetites imensos, critica a estagnação medieval,
atacando a igreja, a cavalaria e as convenções e é considerada obscena, na época,
devido à expressão dos instintos.
ARQUITETURA
RENASCENTISTA
Caracterizou-se
pelos grandes monumentos e pelas construções de grande porte, destacando-se a Catedral
de São Pedro, em Roma, obra magestral do arquiteto italiano Bramante (1444
– 1514), da qual também participaram o pintor Rafael e o arquiteto Michelangelo,
autor da grandiosa Cúpula dessa Igreja.
A ESCULTURA
RENASCENTISTA
Teve em Michelangelo sua maior expressão. Dentre suas óbras destacam-se: David,
Moisés e Pietá. Neste campo também sobressaíram Donatello (1386 – 1466), autor da
primeira estátua eqüestre de caráter
monumental; Guiberti (1378 –
1455), que lavrou as portas de bronze do batistério de Florença; e Gian
Lorenzo Bermini (1598 – 1680).
O RENASCIMENTO
CIENTÍFICO
O Renascimento
trouxe à ciência um notável desenvolvimento, sobretudo com a introdução dos
métodos experimentais de pesquisa, em oposição aos estudos teóricos da Idade
Média.
Nessa época, a
teoria geocêntrica , sistematizada por Cláudio Ptolomeu , segundo
a qual a Terra era considerada o centro do Universo, foi refutada por Nicolau
Copérnico (1473 – 1543). Este astrônomo polonês provou ser o Sol, e não a
Terra, o centro do sistema planetário, estabelecendo a teoria heliocêntrica.
Pouco mais
tarde, outro astrônomo, o alemão Johann Kepler (1571 – 1630), aperfeiçoou a teoria de Copérnico, ao descobrir ,graças
a minuciosos cálculos, que os planetas descreviam órbitas elípticas em torno do
Sol, em não circulares, como afirmava o polonês.
O italiano Galileu
Galilei (1564 – 1642), foi quem introduziu e difundiu a luneta na Itália.
Galileu descobriu os satélites de Júpiter e os anéis de Saturno.
Na medicina
também houve grandes progressos. O médico espanhol Miguel de Servet descobriu
a pequena circulação entre o coração e os pulmões; o francês Ambroise Paré (1517 – 1590) combateu o
uso do fogo e do azeite quente no tratamento das feridas ocasionadas por armas
de fogo; e o alemão Paracelso estudou
a aplicação de drogas medicinais.
RENASCIMENTO NA ALEMANHA
Na Alemanha,
o apogeu renascentista esteve representado pelas obras de dois grandes
pintores:
-
Alberto Dürer (1471 – 1528), autor dos quadros Adoração
dos Magos, A trindade e outros.
-
Hans Holbein, o jovem (1497 – 1528), considerado o
maior retratista alemão, autor de Henrique VIII, Erasmo etc.
RENASCIMENTO NA INGLATERRA
Na Inglaterra,
os setores de maior destaque foram a Literatura e a Filosofia,
com:
-
Thomas Morus (1478 – 1535), autor de Utopia (história
de um país hipotético, onde a felicidade era total).
-
William Shakespeare (1564 – 1616), célebre
dramaturgo inglês, considerado o maior gênio do teatro renascentista, autor das
peças históricas Julio Cezar, Ricardo III e Henrique VIII e de peças de
ficção das quais a mais conhecida é Romeu e Julieta.
Um dos maiores
representantes do Renascimento na Espanha foi Lope de Vega, o fundador do teatro
espanhol.
Na Literatura
espanhola, o grande destaque cabe a Miguel de Cervantes (1547 –
1619), autor de D. Quixote de La Mancha, considerada até nossos dias a
melhor novela escrita, onde o autor critica irônicamente os costumes medievais.
Dentre os pintores
cabe destacar El Greco, que, apesar de grego de nascimento, se realizou
como pintor na Espanha, mais propriamente na Cidade de Toledo .
RENASCIMENTO
EM PORTUGAL
A maior figura
do Renascimento em Portugal foi, sem dúvida, o poeta Luís Vaz de Camões (1524 – 1580), autor
da epopéia Os Lusíadas, extensa narrativa em versos da história de seu
país, desde sua formação até a descoberta do caminho para as Índias, por Vasco
da Gama.
Na Arquitetura,
surgiram grandes obras como o Mosteiro
dos Jerônimos, construído no
reinado de D. Manuel em comemoração à descoberta do caminho marítimo para as
Índias, e a Torre de Belém, construída às margens do Rio Tejo.