Introdução
Durante
a Primeira Guerra Mundial, o povo russo, liderado por Wladimir
Ilitch Lênin e Leon Trotsky, derrubou o governo do czar Nicolau II e
assumiu o poder, instaurando no país o regime socialista.
Sentindo-se
ameaçadas, as nações capitalistas européias deram apoio aos latifundiários
e industriais, que se opuseram à revolução. Depois de derrubar os inimigos
internos e externos, o socialismo se consolidou e, após a Segunda Guerra
Mundial, as Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS) se transformaram numa
grande potência.
A
Rússia Antes da Revolução
A
Rússia, no início do século XX, ainda vivia sob o governo absolutista do czar
Nicolau II, que administrava o país com uma aristocracia ociosa e corrupta,
alheia aos problemas do povo.
Os
camponeses, que constituíam a maior parte da população (85%), livraram-se das
obrigações feudais, mas continuaram com a liberdade bastante limitada. As
terras eram caras e, mesmo que conseguissem comprá-las, não teriam dinheiro
para o cultivo. A fome era a causa de revoltas constantes.
Os
operários não eram muito numerosos, pois o país começou a se industrializar
bem mais tarde do que outros. No final do século XIX, com capital estrangeiro,
foram montadas as fábricas de metalurgia, mineração e tecelagem. A instalação
de grandes empresas favoreceu a concentração dos operários e a união entre
eles. Essa classe vivia e trabalhava em condições precárias de habitação,
de salário e de saúde.
O
descontentamento do povo encontrou apoio nas idéias socialistas, divulgadas por
estudantes intelectuais das universidades. Foram eles que começaram a organizar
a classe operária para lutar por seus direitos.
Em
1898, nasceu o Partido Operário Socialista Democrata, que assumiu a
tarefa de liderar a conquista da liberdade política e lutar por uma sociedade
sem exploradores e explorados. Esse partido, em 1903, reuniu-se em um Congresso
no qual surgiam dois grupos: os bolcheviques e os mencheviques.
Os
bolcheviques, palavra que significa "maioria", defendiam a tomada do
poder pelo proletariado, que, aliado aos camponeses, instalaria um governo
socialista. Os mencheviques, palavra que significa "minoria", achavam
que o país, para chegar ao socialismo, deveria passar por uma fase capitalista,
no qual o governo seria exercido pela burguesia.
Em
1904, a Rússia entrou em guerra com o Japão pela disputa de territórios na
Manchúria e na Coréia. Os gastos com o conflito agravaram a situação
financeira, e a derrota sofrida pelo Exército russo aumentou as críticas à
administração do governo.
Em
janeiro de 1905, o povo realizou uma grande concentração diante do Palácio do
Inverno para reivindicar uma Constituição, eleições, redução de jornada de
trabalho e aumento de salários. As tropas do governo reagiram com violência e
muitas pessoas foram mortas. Esse acontecimento ficou registrado como Domingo
Sangrento.
Protestos,
greves e levantes militares explodiram em várias regiões, e o czar foi
pressionado para dar uma resposta aos trabalhadores. Prometeu-lhes uma Constituição
e criou a Duma, assembléia eleita por voto censitário.
As
promessas acalmaram a burguesia e os mencheviques, mas não os bolcheviques.
Estes criaram os Sovietes - assembléia de operários, soldados e camponeses -
em várias regiões do país e ativaram o movimento revolucionário. O czar não
conseguiu conviver com a Duma e voltou à sua posição autorária. Dissolveu os
Sovietes e seus líderes foram presos e deportados.
O Fim do Czarismo
A
crise interna se agravou com a entrada da Rússia na Primeira Guerra Mundial,
contra a Alemanha e o Império Austro-Húngaro. Todos os recursos do Estado
foram destinados à indústria bélica, e a produção agrícola entrou em declínio
com a convocação dos trabalhadores para a Guerra. O Exército, mal equipado e
sem suprimento, sofreu derrota nas fronteiras, com grande número de baixas. As
plantações foram destruídas, os preços subiram e a fome se alastrou no meio
do povo. O número de desertores aumentou e a fuga dos soldados do campo de
batalha foi incentivada pelos bolcheviques.
Do
exterior, os líderes Lênin e Trótsky continuaram orientando os revolucionários.
As
greves, levantes nas Forças Armadas, luta dos camponeses pela terra e invasão
do Palácio de Inverno pelos revolucionários levaram o czar a abdicar
Em
fevereiro de 1917, com a abdicação do czar, formou-se um governo liberal burguês
composto pela Duma, liderado pelo menchevique Kerênski. Pressionado pelos
Sovietes, o governo anistiou os presos e exilados políticos. Lênin e Trótsky,
bolcheviques, retornaram à Rússia, assumindo a direção dos Sovietes. Sob o
lema "paz, terra e pão" desencandearam uma campanha pela retirada da
Rússia da guerra, pela distribuição de terras aos camponeses e pela entrega
da direção aos operários. Trótsky organizou a Guarda Vermelha, milícia
revolucionária.
No
entanto, o governo de Kerênski justificava a permanência da Rússia na guerra,
alegando que a indenização exigida era muito alta. Essa decisão fortaleceu a
posição dos bolcheviques, que foram ganhando adeptos dentro dos Sovietes.
Os Bolcheviques tomam o poder
Em
outubro de 1917, o Soviete da cidade de Petrogrado controlou os pontos estratégicos:
correios, centrais telefônica e elétrica, bancos, estações, redações de
jornais, e formou o Partido Bolchevique. Tomou o poder e instaurou um governo
socialista presidido por Lênin, que anunciou: "a causa pela qual o povo
lutou - a proposta imediata de uma paz democrática, a supressão da propriedade
latifundiária da terra, o controle do operário sobre a produção, a criação
de um governo soviético - está assegurada".
As
grandes propriedades foram abolidas sem indenização, as fábricas foram
nacionalizadas e os operários assumiram a sua direção.
Lênin negociou a paz com os inimigos e, pelo Tratado de Brest Litóvski, a Rússia saiu da Guerra com grande perda territorial. A produção entrou em declínio no campo e nas fábricas, e o comércio ficou paralisado.
O
novo regime provocou o levante da burguesia, que foi apoiada pelas nações
européias capitalistas, interessadas em impedir a implantação do socialismo.
A
guerra civil dos Brancos (opositores) contra os Vermelhos (comunistas) tomou
conta do país e obrigou o governo a desviar todos os recursos para a defesa das
fronteiras, confiscando a produção rural. Esse período foi chamado de
Comunismo de Guerra.
Em
1921, derrotados os Brancos e afastada a ameaça externa, o país estava
arruinado. Lênin decidiu recuar no processo de socialização, adotando uma
nova política.
Um passo atrás, dois à frente
Lênin
definiu a nova política, a NEP (Nova Política Econômica), com a frase:
"Um passo atrás para dar dois à frente". Tratava-se de um recuo
necessário no processo de socialização. Liberou a venda do excedente das
colheitas e o funcionamento de pequenas manufaturas. Concentrou os recursos na
produção de energia, matéria-prima e importação de máquinas para a indústria
e organizou cooperativas de comerciantes e agricultores. A produção cresceu.
Em 1922, fez acordo com várias regiões que formavam o Império Russo, criando
a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS).
Com
a morte de Lênin, em 1924, o poder foi disputado por Trótsky e Stálin, que
tinham posições divergentes. Trótsky defendia a revolução permanente, isto
é, achava que a Rússia deveria ajudar a implantação do socialismo em outros
países, e Stálin era favorável à estabilização do regime para depois
expandi-lo. Vitorioso Stálin expulsou Trótsky do Partido Bolchevique e
autorizou sua deportação. Trótsky viveu no México, onde foi assassinado em
1940 por um agente da política de Stálin com um golpe de machadinha no crânio.
Em
1927, Stálin aboliu a NEP e, através de planos econômicos, desenvolveu a indústria
pesada, continuou o processo de socialização, reduziu o analfabetismo e
promoveu o progresso técnico e científico.
Stálin
perseguiu violentamente seus opositores e realizou os "expurgos",
expulsando do Partido Comunista seus adversários e prendendo todos os que
reagiram ao seu autoritarismo.
No
início do século XX a Rússia era um país pobre e atrasado tecnologicamente.
Era conhecida como o "celeiro" da Europa, por apenas exportar cereais
para todo o Velho Continente. 80% de sua população economicamente ativa vivia
no campo, em muitas regiões sequer se conhecia o arado.
Os
camponeses viviam na miséria. Trabalhavam, com a temperatura em torno de -25oC,
com roupas de trapo e bota de papelão, enquanto o czar vivia acalentado
luxuosamente. O povo não agüentava mais e, em janeiro de 1905, os mujiques
(camponeses), operários e demais pessoas da comunidade organizaram uma passeata
em São Petesburgo, liderados pelo padre Gapon, da Igreja Ortodoxa Russa. Nessa
passeata levariam ao czar Nicolau II um documento clamando por alguns direitos
sociais e contando ao querido czar a situação do povo russo. Acreditavam que
Nicolau II não sabia que o povo russo passava fome e vivia na miséria e que,
quando lesse a carta, ele livrar-se-ia dos assessores maus e os ajudaria. Nesse
clima de paz crianças, mães com filhos no colo e homens humildes iam,
calmamente, cantando músicas religiosas, em direção ao czar. Porém, este, ao
ver o povão reunido, considerando isso uma insolência, não quis nem saber de
conversa e ordenou aos cossacos, tropa de soldados imperial, o imediato extermínio
de todos. Os cossacos se postaram e, ao grito de permissão para atirar,
coloriram de vermelho a branca neve que pisavam. A cavalaria completou o
massacre cegando, com furos no olhos, as crianças e mutilando o ventre das
mulheres grávidas. Gigantescas valas foram abertas para despejar os corpos, que
eram removidos por dezenas de caminhões. Milhares morreram cruelmente, porém
os ricos da Rússia não tiveram seu dinheiro e privilégios abalados.
Esse
foi considerado o "Ensaio Geral" para a Revolução Russa de 1917.
Veio a Primeira Guerra Mundial e a situação de miséria da Rússia piorou
ainda mais. Fome, epidemias e a prática de violências provocada pela miséria
espalharam-se por todos o país. As passeatas contra Nicolau II multiplicavam-se
e suas tropas, cansadas da guerra provocada pelos ricos e por seus interesses,
desertava em número cada vez maior, e tomavam o lado do povo. A situação
tornara-se insustentável. Em 8 de março de 1917 (27 de fevereiro no antigo
calendário russo) o czar foi derrubado. Instaurou-se um governo provisório
comandando pela burguesia russa, classe social mais bem organizada no momento.
Foram abolidas a censura à imprensa e a pena de morte aos que praticassem
crimes políticos. Todos os partidos tiveram direito de manifestação. Porém,
em julho, o governo provisório, então liderado por Lvov, tentou reprimir
manifestações bolcheviques e acabou caindo. Seu substituto foi Alexander
Kerenski. No entanto, os imperialistas anglo-franceses não estavam gostando
muito dessa revolução. Tinham, entre outros, medo de que a Rússia saísse da
guerra. Então apoiaram o general Kornilov numa tentativa de golpe de Estado
para instituir uma ditadura de extrema-direita. Kerenski, apoiados pelos
bolcheviques, que consideravam uma ditadura ainda pior que o já ruim governo
provisório, permaneceu no poder. Mas Lênin, que havia retornado à Rússia em
abril, aproveitou para organizar a sua tomada do poder. Apoiado por Trotsky, Lênin
dizia que o governo provisório era um instrumento de dominação da burguesia.
E na noite de 6 para 7 de novembro de 1917 as forças bolcheviques, constituídas
por soldados e operários armados tomaram o poder. Lênin logo tirou a Rússia
da guerra através da assinatura do tratado de Brest-Litóvski. Além disso Lênin
rapidamente eliminou os latifúndios, decretou o controle operário sobre as fábricas,
declarou o monopólio estatal do sistema financeiro, do sistema de crédito e
das exportações. Estava formado o primeiro estado socialista.
Cronologia da Revolução
1917
09/02
O povo de
Petrogrado descontente com o desenrolar da Primeira Guerra Mundial, a situação
social do país e falta de gêneros de primeira necessidade, começa a saquear
padarias.
25/02
A greve
adquire caráter geral e o governo dissolve a Duma.
27/02
Os
socialistas organizam o Comitê Executivo provisório do Soviete, composto
principalmente de mencheviques.
02/03
A Duma,
apoiada pelos socialistas, constitui um governo provisório encabeçado pelo príncipe
Gerorgi Lvov; abdicação do czar Nicolau II.
04/03
Extingue-se
a monarquia.
29/03
Reunião do
Soviete em Petrogrado.
03/04
Lênin chega
a Petrogrado e os bolcheviques ganham força.
07/07
Demissão de
Lvov.
24/07
a 27/08
Governo provisório de Aleksandr Kerenski; fuga de Lênin da Rússia.
25/08
a 02/09
Lavr Korlinov tenta golpe no estado.
31/08
Os
bolcheviques alcançam a maioria do Soviete de Petrogrado.
07/09
Lênin
regressa da Finlândia e instala a revolução bolchevique.
24
a 25/10
Os bolcheviques ocupam e controlam Petrogrado.
26/10
Os
bolcheviques tomam o palácio de Inverno, onde se encontra o governo provisório;
triunfa a revolução.
01/11
Estabelece-se
o controle operário sobre as fábricas.
1918
15/01
Organização
do Exército Vermelho.
03/03
Firmada a
paz de Brest-Litovsk com a Alemanha, o que ocasiona a retirada da União Soviética
da Primeira Guerra Mundial.
Maio
Irrompe a
Guerra Civil.
10/06
Proclamada a
nova constituição.
Lênin Trótski