OS TRÊS HERDEIROS DE ROMA:
O MUNDO BIZANTINO, O ISLÂMICO E A IDADE MÉDIA INICIAL NO OCIDENTE.
Os
sucessores de Roma
Por volta do ano 700 havia, três
civilizações que se colocavam como rivais em diferentes margens do
Mediterrâneo: A Bizantina, a Islâmica e a Cristã Ocidental.
A civilização bizantina,
descendente direta do Império Romano do Oriente, falava o grego e dedicavam-se
pela combinação das tradições romanas de governo com a busca da fé cristã.
A civilização islâmica falava o árabe e se inspiravam nos pontos
relacionados ao governo e à cultura, para idealizarem uma nova religião.
A civilização cristã ocidental,
possuía uma economia pouco avançada, não tinham bases suficientes para se
organizarem tanto no governo como na religião. É no cristianismo e na língua
latina que encontrou uma base que em breve começaria a unir a política e a religião.
Reavaliação das
civilizações bizantinas e islâmicas
Do século VII ao XI, dessas três
civilizações, a mais atrasada foi a civilização cristã ocidental, mas as outras
duas civilizações merecem nossa atenção, pelo fato de terem influenciado direta
e indiretamente a evolução da Europa Ocidental.
1. O
império bizantino e sua cultura
Realização
da civilização bizantina: imponente apesar das fraquezas.
No passado, o historiador
Gibbon, a menosprezou, enquanto que hoje é vista como uma das mais interessantes,
apesar de não ter sido inovadora.
O império aos poucos foi
prosperando e influenciou muito o mundo a sua volta. Entre muitas realizações,
ajudou a preservar o pensamento grego antigo, criou obras de arte, levou a
cultura cristã a povos pagãos, sobre
tudo aos eslavos.
Problemas
de periodização na história bizantina
A história bizantina não teve
uma data precisa, porque varia de um historiador para outro. Alguns relatam que
algumas características bizantinas se manifestaram na história romana,
decorrente a política de Diocleciano, enquanto outros afirmam que a história
bizantina começou quanto Constantino mudou sua capital de Roma para
Constantinopla.
O Império Bizantino atingiu seu
apogeu durante o reinado do Imperador Justiniano (527 - 565) que pretendeu
reconstruir a unidade do antigo Império Romano.
Após a morte de Justiniano, o
Império Bizantino foi decaindo e perdendo aos poucos tudo que havia
conquistado. Heráclio (610 - 641) foi o último grande imperador bizantino.
O
reinado de Heráclio: a ascensão do Islam
Quando Heráclio subiu ao trono
os persas ameaçavam o Império Bizantino.
O símbolo do seu triunfo, os
persas em 614, levaram a relíquia sagrada tida como um fragmento da cruz de
Cristo.
Heráclio por sua vez, inverteu a
situação, juntando forças e recuperando em 627 a cruz. Heráclio reinou em
glória até 641.
Os últimos anos de Heráclio
coincidiram com o começo das invasões
árabes. Em 636, os árabes conquistaram a Síria; em 638, a Palestina e, em 641 a
Pérsia e o Egito.
Revivescência
bizantina antes da batalha Manzikert
Os invasores muçulmanos, no
entanto, foram incapazes de tomar Constantinopla, pois os bizantinos dispunham
de uma invencível arma secreta, o “fogo
grego”. Essa arma dos bizantinos só foi superada no século XIV pelos canhões e
outras armas de fogo. E com essa arma as forças árabes foram derrotadas em
terra e mar, pelo Imperador Leão III.
No século XI um outro povo
islamita, os turcos seljúcidas, destruíram um exército bizantino em Manzikert,
na Ásia Menor. É nesse século que começaram as lutas entre bizantinos e turcos,
que se estenderiam até 1453.
Fim do
Império Bizantino
Em 1071, mesmo ano que houve a
vitória dos turcos sobre os bizantinos na Ásia Menor, ocidentais conhecidos
como normandos expulsaram os bizantinos do sul da Itália. O império do Oriente
defrontou-se com um inimigo inesperado: os participantes cristãos da quarta
cruzada que em 1204, desistiram do projeto de retomar Jerusalém, em poder dos
turcos, e preferiram conquistar Constantinopla.
Vitoriosos, os cruzados fundaram
o Império Latino de Constantinopla que durou até 1261.
O Império Bizantino foi
restabelecido mas a ameaça turca continuava a existir. E não apenas a dos
seljúcidas, mas a de um ramo ainda mais hábil e ameaçador, os turcos otomanos
que desembarcaram na Europa e aos poucos se apoderaram das províncias européias
do império.
No momento em que os otomanos
lançaram o ataque final contra Constantinopla, o Império Bizantino estava
reduzido aos limites das muralhas da cidade.
Em 29 de maio de 1453,
Constantinopla caiu em poder dos turcos. Até hoje os turcos dominam
Constantinopla ou Istambul.
Fatores
da estabilidade do Império Bizantino: (1) ocasionais governantes capazes
O estado bizantino sofreu séculos de tantas forças
hostis diferentes.
Conseguira sobreviver basicamente graças, de um lado, a
uma eficiente máquina burocrática que deixou de funcionar durante as inúmeras
crises e, de outro, a sua base econômica baseada no comércio.
(2) eficiente
administração burocrática
O funcionalismo bizantino
regulava muito os aspectos da vida, muito mais do que considerado certo por nós
hoje em dia. Os burocratas supervisionavam a educação e religião.
Os funcionários urbanos em Constantinopla, regulavam
preços e salários, controlavam as exportações e tudo feito com eficiência.
(3) firme base
econômica
Constantinopla foi durante os
séculos IX e X o empório comercial mais importante do mundo ocidental. O
império protegia suas indústrias, em especial a da seda.
Significado
da história agrícola bizantina
O comércio e a indústria dão
realce, porque proporcionavam segurança e estabilidade ao estado. A agricultura
é o coração da economia bizantina.
Os camponeses, antes conseguiam sobreviver, com a ajuda
da legislação estatal, mas depois de 1205, os aristocratas começaram a
transformar os camponeses em rendeiros pobres.
Dessa forma, o império foi
destruído de dentro pelos venezianos que pretendiam dominar totalmente o
comércio no Mediterrâneo, antes de ser dominado por fora, pelos turcos.
Preocupação
com a religião
A religião desempenhava um papel
central na vida cos bizantinos. Ao que parece, nenhum outro assunto ocupou de
maneira tão absorvente a população local pois era enorme o interesse nas
discussões sobre assuntos de natureza religiosa que despertavam em todas as
camadas da população, até mesmo nos governantes.
Participação
imperial nas controvérsias religiosas
Os religiosos bizantinos, como
exerciam grande poder na vida da igreja, eram as vezes considerados pelos
sacerdotes como “semelhantes a Deus”.
Apesar de seus conhecimentos não
podiam obrigar os seus subordinados a acreditar no que eles pensavam,
acreditavam.
Os
iconoclastas
Iconoclastas, quebradores de
imagens, eram denominados os que condenavam o uso de ícones no culto.
Leão III, o imperador que
derrotava os árabes, era partidário da heresia dos iconoclastas, que acusavam
as pessoas fanáticas de deturpar a doutrina cristã e adorar as imagens
religiosas como se fossem ídolos pagãos.
Motivações
políticas e financeiras
Quando anunciaram o movimento
religioso novo, os imperadores controlaram a Igreja. Acabaram defendendo a
causa das imagens e foram perseguidos por Constantino V, que aproveitou para
apropriar-se das riquezas dos conventos.
Significado
da controvérsia do Iconoclasmo
Foi um século de tumulto quanto
à questão que teve resultados profundos.
Um deles foi a proibição ao uso
de imagens, determinando sua destruição.
Por causa dessa proibição,
durante mais de um século os iconoclastas destruíram ou desfiguraram milhares
de pinturas e esculturas religiosas. Outra questão religiosa que não deu origem
a heresias, mais dividiu o cristianismo: o chamado Grande Cisma (grande divisão)
entre o catolicismo ocidental e o oriental.
Outros
resultados: (1) reafirmação da tradição
O movimento iconoclasta
representou um estágio importante na reformulação das tradições romanas e
orientais, foi um prenúncio da separação definitiva entre dois ramos da Igreja.
(2) triunfo
da piedade contemplativa bizantina
Os teólogos bizantinos, viam o
pecado como ignorância e acreditavam que a salvação seria encontrada na
iluminação. Isso fez com que conduzisse o cristianismo oriental a um certo
sofrimento e religiosidade profunda que
o fazem parecer diferentes das variedades ocidentais até hoje.
O
classicismo bizantino
As escolas bizantinas baseavam a
instrução na literatura grega clássica.
Os escritores imitavam a prosa
de Tucídides, porque foi o mais profundo historiador da antigüidade, e tinha
uma visão realista e racional, pois se preocupava em narrar os acontecimentos
com imparcialidade e precisão, explicando suas causas.
A
educação feminina
As moças de famílias nobres não
iam à escolas mas tutores particulares as orientavam com boa educação em sua
própria casa.
Mulheres tinham conhecimento que
discursavam como um Platão.
Muitas mulheres eram médicas no
império bizantino.
Arquitetura
bizantina; a igreja de Santa Sofia e a arte bizantina
A arte bizantina merece menção
mais destacada. Realçou, sobretudo, pelo esplendor da ornamentação. Como que
para compensar se fez presente uma chamativa arquitetura de traços místicos,
variedade de detalhes e riqueza de colorido.
Seu exemplo mais notável foi a
igreja de Santa Sofia, erguida na época de Justiniano. Seus arquitetos
projetaram aspecto sóbrio na face externa, usaram mosaicos coloridos, detalhes
folheados a ouro, colunas de mármores com cores variadas e pedaços de vidros coloridos
que refletiam como pedras preciosas. A disposição do edifício que a luz parecia
não vir de fora, mas brotar do próprio interior.
Devido a influência do
ascetismo, negadora da glorificação do homem, a escultura não se desenvolveu.
Porém, quando Constantinopla foi
tomada pelos turcos, eruditos bizantinos procuravam refúgio em cidades
italianas, onde difundiram o gosto pela cultura clássica.
Hostilidades
entre os cristãos orientais e ocidentais
Do ponto de vista bizantino os
ocidentais eram rudes e ignorantes enquanto aos olhos ocidentais os bizantinos
eram efeminados e inclinados à heresia.
Após o saque de Constantinopla
em 1204, o ódio bizantino pelos ocidentais tornou-se imenso. Os beneficiários
desse ódio são os turcos, que não só conquistaram Constantinopla, como
conquistaram a maior parte da Europa, até Viena.
A
contribuição bizantina para a civilização ocidental
A civilização bizantina
conservou, e posteriormente, espalhou a herança cultural greco-romano. Aos
árabes e à Europa Ocidental, os bizantinos deram a conhecer as grandes obras
dos sábios filósofos, escritores, médicos da Antigüidade.
Mantiveram aceso o contato
cultural entre o Oriente e Ocidente, através da manutenção do comércio entre
Constantinopla e Veneza. Os eruditos bizantinos influenciaram diretamente a
Renascença Italiana. Nas artes legaram uma arquitetura de acabamento interno
rico e vistoso, trabalhos de ourivesaria, mosaicos, miniaturas de manuscritos e
preciosos estofos.
2. O Florescimento do
Islam
O
fenômeno do Islam
No Oriente Médio desenvolveu-se
o islamismo, religião nascida entre os árabes, a qual se converteram muitos
povos, desde a Índia até o norte da África. O islamismo é atualmente a religião
que possuí maior número de seguidores, depois do cristianismo.
Islamismo significa “submissão a
Deus”. Daí o adepto do islamismo chamar-se islamita, muçulmano ou maometano.
As
condições na Arábia antes da ascensão do Islam
Antes do século VII os árabes não
tinham Estado e nem unidade nacional: formavam tribos que lutavam umas com as
outras. Os árabes do deserto, chamados de beduínos, eram nômades, cujo sustento
dependia dos oásis onde plantavam a tâmara e criavam camelos e cabras.
Os árabes da cidade por sua vez,
tinham como principal atividade o comércio que se desenvolvia com os povos
vizinhos por intermédio das caravanas.
O comércio de Meca
beneficiava-se em larga medida de sua condição de cidade santa para todas as
tribos árabes. Ali até hoje existe um templo sempre envolvido num pano negro: é
a Caaba, palavra que significa “cubo”, porque ele tem a forma aproximada desse
sólido.
A Caaba abriga a Pedra Negra,
venerada desde tempos imemoriais, e que é provavelmente um meteoro. Conta-se
que a pedra era branca, mas se tornou negra com os beijos dos pecadores. Ali
também eram guardados os 360 ídolos protetores das tribos da Arábia.
Maomé
Nascido em Meca no ano de 570,
Maomé pertencia a tribo dos coraixitas, de ricos comerciantes, cuja função
religiosa era a guarda da Caaba.
Órfão desde cedo, Maomé, foi
condutor das caravanas de sua prima Cadidja, que veio a desposar quando ela era
uma viúva bastante rica. Aos 40 anos, a calma proporcionada pela riqueza
permitiu-lhe longas meditações sobre as crenças religiosas dos povos que ele
havia conhecido nas viagens das caravanas à Síria a à Pérsia.
Maomé afirmava ter visões, nas
quais o anjo Gabriel lhe ordenava a pregação de uma nova doutrina baseada na
submissão total (islam) a Alá , o Deus único.
Dizendo-se profeta e Alá Maomé
começou a pregar contra os ídolos guardados na Caaba. Por esse motivo, foi
perseguido pelos coraixitas, interessados em manter a idolatria tradicional,
que atraía multidões de visitantes a Meca, favorecendo com isso a atividade
comercial.
Em 622, para não morrer nas mãos
dos coraixitas, Maomé fugiu para Yathrib que desde então passou a chamar-se
Medina (Cidade do Profeta).
Esse episódio, conhecido como
Hégira (fuga ou emigração marca o único do calendário muçulmano.
Consolidação do Religião de Maomé
Aproveitando
uma luta entre duas poderosas famílias da cidade e explorando as rivalidades
entre Yathrib e Meca, Maomé difundiu sua doutrina.
Como os judeus de Medina
rejeitavam sua liderança, Maomé procurou apoio nos beduínos. Difundiu entre
eles a nova fé e desencadeou uma guerra santa contra seus inimigos.
Fortalecidos, Maomé e seus
seguidores entraram em Meca, no ano de 630.
Em 632, Maomé morria, deixando
inteiramente difundida sua doutrina religiosa. Ao mesmo tempo, a região, que
era um aglomerado de tribos e clãs dispersos, teve sua unificação política
realizada através da própria unificação religiosa.
As Doutrinas do Islam
O Islão, isto é, “submissão
total à vontade de Deus”, é uma mistura de idéias religiosas árabes com
elementos da religião judaica e da religião cristã.
A doutrina de Maomé está no
livro sagrado do Islamismo, o Corão ou Alcorão, que não foi escrito pelo
profeta, mas por seus discípulos.
Afirma, a existência de um só
Deus, Alá, e prega o combate aos infiéis através da Guerra Santa.
A Influência Judeu-Cristã sobre o Islam.
O Islamismo é uma religião
sincrético, ou seja, resulta da superposição de princípios extraídos do
Judaísmo e do Cristianismo.
O profeta afirmava que os
preceitos dos islamismo foram ditados a ele por mensageiros de Deus. Seja como
for, a nova doutrina contem elementos das religiões cristã e hebraica, ambas
monoteístas, e das crenças árabes tradicionais. Por exemplo, a Pedra Negra da
Caaba continuou a ser venerada;
dizia-se que ela fora trazida à Terra pelo Anjo Gabriel.
A Unificação da Arábia após Maomé: os Cafifas
Após a morte de Maomé, seus
discípulos escolheram Abu-Bakr, como sucessor, um dos antigos fundadores do
Islamismo.
Ao novo governador denominou-se
califa, que quer dizer “sucessor do Profeta”.
A Expansão e as conquistas árabes.
Abu-Bakr morreu dois anos após
sua acessão, mas foi sucedido no califado por Omar. Em 636, os árabes
destruíram um exército bizantino na Síria, ocupando depois as cidades de Antioquia, Damasco e
Jerusalém.
Em 637, destruíram o exército
dos persas e atacaram contra a capital
da Pérsia, Ctesifonte.
Em 711, os árabes cruzaram o estreito do Mediterrâneo e invadiram a
Espanha e conquistaram quase toda Península Ibérica.
Razões para a propagação do Islam
O que fez os árabes saírem do deserto foi a procura de territórios mais
ricos, e o que os manteve em contínuo avanço foi a facilidade de guardarem as
riquezas.
Os governantes preferiam os
árabes, pois estes cobravam menos impostos que os bizantinos e persas.
Divisão entre xiitas e sunitas
Eis que o Islam se divide em
duas facções violentamente antagônicas: uma composta pelos sunitas, seguidores
da suna, e outra que permaneceu fiel a Ali e seus descendentes diretos, os
xiitas.
Hoje, cerca de 90% dos
muçulmanos seguem a tradição sunita, mas os xiitas, mesmo sendo minoria, não
desistiram de lutar por seus direitos.
Os omíadas
Estes concentravam suas forças
nos territórios na Síria. Voltaram suas energias para o domínio no Mediterrâneo
e a conquista de Constantinopla.
Os Abássidas
Os mais célebre cáfifa árabe,
Harun al-Rashid ( o justo), da dinastia dos Abássidas tinha corte em Bagdá.
Governou como califa de 786 à 809. Foi contemporâneo de Carlos Magno e
mostrou-se protetor das letras e das artes.
Personagem dos contos de As mil
e uma mortes, obra-prima da literatura árabe.
História
política islâmica após a queda do império abássida
Em 945, o império abássida
arruinou-se quando uma tribo xiita capturou Bagdá.
Foi a partir daí, que se
tornaram governantes nominais, desprovidos do poder.
Surgiu mais tarde, novos
impérios islâmicos, sendo no Ocidente o dos turcos otomanos, controlando grande
parte da Europa oriental e do Ocidente Próximo.
Em 1251, o Império Muçulmano
atacado ao Oriente pelos mongóis, teve Bagdá conquistada, e com isso chegava ao
fim a Dinastia Abássida. No século XIV, os turcos otomanos conquistavam aquilo
que ainda restava de outrora extenso império fundado na religião criada por
Maomé.
O
caráter da cultura e da sociedade islâmica
Inicialmente, o islamismo não
encorajava e nem insistia na conversão. O Alcorão incita a respeitar “os povos
do livro”, isto é, membros de religiões monoteísta que seguem a palavra
escrita.
O tratamento
dado as mulheres
Pela lei islâmica, a mulher é
igual ao homem com os mesmos direitos e nos deveres, sendo que para ela não
haverá nenhuma discriminação na vida eterna que a espera depois da morte. Mas
no campo social há diferenças fortes e muito graves.
Sob a questão o Alcorão
estabelece: “os homens estão acima das mulheres porque, Deus deu preferência a
alguns sobre outros e porque eles dão seus bens para mantê-las”. Isso
significa, na prática, que a mulher enquanto não casa, deve submeter-se à
autoridade do pai, e após o casamento, à do marido.
A vida
religiosa islâmica: os ulama e os sufis
Os ulama, letrados; sua tarefa se
baseava em estudar e dar conselhos sobre religião e a vida religiosa.
Os sufis, místicos; valorizavam
a contemplação e a admiração, tal como os ulama valorizavam a lei religiosa.
Alguns sufis eram “dervixes
rodopiantes”, assim chamados no Ocidente por causa de suas danças; outros eram
faquires, outros encantadores de serpentes, e outros meditavam.
Filosofia
islâmica
Os filósofos islâmicos eram na
verdade chamados faylasufs, por se dedicarem ao cultivo daquilo que os gregos
denominavam filosofia.
Sua filosofia se baseava no
estudo do antigo pensamento grego.
O problema da
conciliação das idéias gregas com a religião islâmica
Este era o problema dos
faylasufs; o de conciliar filosofia grega com a religião islâmica.
Os faylasufs reagiram a esse
problema de um modo distinto. Al-Farabi (m.950) viveu em Bagdá, ensinava que as pessoas mais cultas podiam
filosofar sem ser envolvidas pelas crenças comuns das massas.
Avicena e
Averróes
O primeiro grande filósofo árabe
foi Al kindi. Viveu no século IX e considerava-se neoplatônico. Ibn Sina,
chamado Avicena, de origem persa, viveu no século X e foi o introdutor da
indução na filosofia; realizou estudos de psicologia, influenciando Santo Tomás
e Albert Magnos. Ibn Rush - chamado Averróes (1126 - 98), natural de Córdova,
viveu no século XII e transmitiu as idéias aristotélicas ao mundo ocidental
europeu, aceitando a doutrina de dupla verdade: religiosa e intelectual.
Ciência
islâmica; a prática da astrologia
Os homens eram tanto filósofos
como cientistas, pois não podiam ganhar a vida comentando Aristóteles, mas
podiam mostrar a prática da astrologia
da medicina.
Contribuições
islâmicas para a medicina
Avicena descreveu a natureza de
várias doenças, como a da tuberculose, a peste, o contágio por meio da água,
solo, etc. Sua principal obra, “Canon da medicina”, foi adotada na Europa até o
século XVII.
Rhazes (865 - 925) descobriu o
sarampo e a varíola. Outros médicos islâmicos descobriram antídotos para certos
casos de envenenamento. Montaram hospitais nas principais cidades: Pérsia,
Síria e Egito; e organizaram cursos de estudos médicos.
Óptica, química
e matemática
Iniciaram a ciência da óptica,
desenvolvendo as lentes de aumento e as de correção dos defeitos da visão. Na
química, dedicaram-se à alquimia. Procuravam descobrir a pedra filosofal
(substância que transformaria os metais em ouro) e o elixir da longa vida
(substância que proporcionaria a juventude eterna). Não foram bem sucedidos
nessas pesquisas mas acabaram descobrindo novas substâncias e compostos, como o
salitri, o álcool, o ácido sulfúrico, o nitrato de prata, o alúmen, o carbonato
de sódio etc.
Na matemática desenvolveram a
álgebra e a trigonometria e propagaram o sistema de numeração indu-arábico,
cuja invenção pertencem aos hindus.
A literatura
islâmica
A poesia era amplamente
cultivada pelos árabes. O mais célebre poeta foi Omar Khayyam (m.1123) autor do
poema Rubaiyat. A literatura também tinha importância para os árabes. Na época
do califa Harun-al-Rashid, em Bagdá, foi escrito o famoso livro As Mil e Uma
Noites. Superior a poesia de Khayyam foi a de Sadi (1193 - 1292) e Hafiz (m.
1389).
A arte
eclética dos muçulmanos
No campo das artes, os árabes
distinguiram-se principalmente na arquitetura.
Construíram palácios e mesquitas
(templos) com numerosas colunas esguias, arcos em ferradura, mosaicos e os
famosos arabescos (decorações baseadas em combinações de motivos geométricos e
vegetais, e inscrições em caracteres árabes).
Desenvolvimento
econômico do império islâmico: (1) comércio
O comércio foi outra atividade
que floresceu com a civilização muçulmana.
Antes mesmo do surgimento do
islamismo, as caravanas árabes já cruzavam boa parte da Ásia. Após a formação
do império, as embarcações e as caravanas dos mercadores árabes alcançaram as
regiões mais distantes. Cidades como Bagdá (Mesopotânea), Damasco (Síria) e
Alexandria (Egito) tornaram-se importantes centros de comércio. Recebiam
tecidos e porcelanas da China, pimenta e outras especiarias da Índia e de
outros países asiáticos, escravos, marfim e ouro da África.
(2) Indústria
Quase todas as grandes cidades
especializaram-se num dado tipo de indústria.
Mossul, na Síria, fabricação de
tecidos de algodão. Bagdá, especializou-se em vidros, ourivesaria, cerâmica e
sedas. Damasco era famosa por seu aço e por seu damasco, ou seda. Marrocos,
produção de couros e Toledo, na Espanha, por suas magníficas espadas. Com os
chineses muçulmanos, aprenderam a arte da fabricação de papel.
Influência econômica
do Islam sobre o Ocidente
Os ocidentais absorveram muito
da tecnologia islâmica, como utilizando o sistema de irrigação, cultivo de
produtos agrícolas, fabricação de papel e a destilação do álcool. Influência
islâmica quanto as palavras de origem árabe e persa, como: alface, benjoim,
café, enxaqueca, fardo, garrafa, laranja, máscara, pataca, quilate, talco etc.
Contribuições
intelectuais e científicas
A civilização islâmica preservou
e difundiu o conhecimento filosófico e científico dos gregos.
Todas as obras científicas
gregas foram traduzidas para o árabe e retraduzidas no ocidente para o latim.
Na matemática desenvolveram a álgebra e a trigonometria, além dos conhecimentos
deixados pelos gregos. Propagaram o sistema numérico “arábico” cuja invenção
provem dos hindus.
Significado
geral da civilização islâmica
Civilizações superaram com suas
conquistas intelectuais todas as outras civilizações da época. Isso se deu à
capacidade de assimilar e reelaborar o patrimônio cultural das civilizações com
que entravam em contato, enriquecendo-o com contribuições originais. O que se
deu com as mais diversas culturas como a bizantina, persa, hindu ou a chinesa.
3. A CIVILIZAÇÃO CRISTÃ
OCIDENTAL NO INÍCIO DA IDADE MÉDIA
Criação
de uma unidade cultural no ocidente durante a Idade Média Inicial
Por volta de 800 a monarquia dos
francos, baseada nas riquezas agrícolas do norte da Europa, conseguiu criar um
império europeu ocidental em aliança com a Igreja Cristã do Ocidente. Embora
esse império não tivesse longa duração, conseguiu moldar uma nova unidade
cultural no Ocidente que teria grande importância no futuro.
O reino dos
francos: período merovíngio
Em 482, quando Clóvis se tornou
rei, os francos ocupavam apenas uma pequena parte da Gálea e viviam divididos
em tribos. Clóvis, porém, conseguiu unificar os francos e derrotar outros
grupos germânicos da Gálea. Por esse motivo, é considerado o fundador do Estado
franco e o mais importante rei da dinastia dos merovíngios (nome derivado de meroveu, avô de Clóvis,
que combateu os hunos).
O arquiteto de uma nova política
religiosa na Europa ocidental, baseado numa aliança entre duas instituições,
foi o papa Gregório Magno. Como teólogo, desenvolveu o trabalho de seus três
antecessores: Jerônimo, Ambrósio e Agostinho.
Políticas
religiosas de Gregório Magno
Além de teólogo, Gregório Magno
destacou-se como estadista e
lingüista.
Ele protegeu a ordem dos monges
beneditinos, garantiu na Itália, a sobrevivência física do papado e deu ênfase
as antigas pretensões de primazia do papado.
O mais importante foi a
conversão da Inglaterra anglo-saxônica ao cristianismo. Não viveu o suficiente
para ver essa união, mas o principal fator de realização foi a política de
revigoramento da igreja ocidental.
Fatores
para o aumento da estabilidade da Gálea franca
Quando os árabes conquistaram,
conquistaram a margem africana do Mediterrâneo e se lançaram ao mar no século
VII, a Gálea e a Europa ocidental viram-se finalmente entregues a si mesmas e
obrigadas a desviar os olhos do mediterrâneo.
As terras ao norte, as áreas
eram férteis, produzindo grandes riquezas com equipamentos agrícolas adequados.
A
aliança entre os reis francos e a Igreja: Carlos Martel e São Bonifácio
Em 687, Pepino de Heristal,
conseguiu unir todas as terras francas sob seu governo e construiu uma nova
base de poder para sua família na região da Bélgica e do Reno. Tornou o cargo
hereditário e passou-o a seu filho Carlos Martel, que derrotou na Batalha de
Poitiers (732) tropas árabes que haviam invadido a Gálea.
São Bonifácio juntamente com os
beneditinos atravessaram o canal da Mancha para tentarem converter a Alemanha
central.
Com a expansão dos francos e o
trabalho missionário progredindo lado a lado, Carlos Martel ofereceu a São
Bonifácio e aos beneditinos ajuda material em troca de apoio as suas pretensões
territoriais.
Solidificação
da aliança ao tempo de Pepino, o Breve.
Alguns anos mais tarde, 751, o
filho de Carlos Martel, Pepino o Breve, com o apoio da Igreja, afastou o último
soberano merovíngio e fundou a dinastia dos carolíngios.
O acontecimento mais importante
do governo de Pepino, o Breve, foi a doação ao papa de territórios tomados aos
bombardos.
A
reviravolta do papado
O filho de Pepino, o Breve,
Carlos Magno (768 - 814) foi o maior soberano da Idade Média e o mais famoso de
todos os reis francos. Conseguiu unir politicamente boa parte da Europa central
e ocidental.
Apoiadas pela Igreja, as
campanhas militares de Carlos Magno possibilitaram tanto a expansão do Reino
Franco como a difusão do Cristianismo.
A
renascença Carolíngia
Carlos Magno, que mal sabia
assinar o próprio nome, fez muito pela instrução. Ele ordenou a criação, em
cada convento, de uma escola para o ensino da gramática, cálculo e religião.
Esses conventos, especialmente
os dos beneditinos, eram os polos onde se rearticulava a vida intelectual na
Idade Média. Os monges se dedicavam ao paciente trabalho de copiar em
pergaminho obras de antigos autores gregos e romanos, completando-as com
ilustrações.
No palácio de Carlos Magno foi
fundada a Escola Palatina, onde o imperador e os demais alunos assistiam as
aulas ministradas pelo monge inglês Alcuíno, um dos mais brilhantes mestres e
pensadores da época.
A retomada intelectual foi tão
intensa que se tornou conhecida como Renascimento Carolíngio e comparada ao
Renascimento da Idade Moderna.
Coroação de
Carlos Magno como Imperador
O papa Leão III, pontífice da
época, era acusado de tirânico. A própria população romana, insatisfeita,
rebelou-se, obrigando-o a fugir da cidade. Exilado, Leão III apelou para o
auxílio de Carlos Magno. Este assumiu sua defesa e o recolocou no trono
pontifício. No ano 800, em Roma, na noite de Natal, Carlos Magno foi coroado
imperador dos romanos, pelo papa Leão III, sob as aclamações da multidão. Com a
coroação de Carlos Magno como imperador dos romanos, a Igreja pretendia fazer
reviver o Império Romano do Ocidente e, ao mesmo tempo, unificar a Europa sob o
comando de um monarca cristão.
A
desintegração do Império de Carlos Magno
Com sua morte, em 814, os
senhores proprietários de terras buscaram maior autonomia. Seus sucessores
perderam o controle sobre eles. O feudalismo, sistema econômico político e
social que caracterizou a Europa na Idade Média, assentou-se de forma mais
nítida.
Sucedeu a Carlos Magno seu filho
Luís, o Piedoso, governando de 814 a 840.
Sem energia para governar tão
vasto império, ele foi combatido e deposto pelos próprios filhos.
Com o desmembramento do Império
Carolíngico, malogrou a tentativa de unificação de toda a Europa Cristã do
Ocidente sob o comando de um único monarca.
Inglaterra
ao tempo de Alfredo, o Grande
O século X foi marcado pelo
aparecimento de uma organização política estável no norte e no leste da Europa.
Os saqueadores do século anterior formaram Estados estáveis sendo um deles a
Inglaterra, os sucessores de Alfredo o Grande, que reconquistaram a zona
dinamarquesa.
Condições
políticas na França e na Alemanha
A França foi a região devastada
pelas invasões dos vikings, que haviam subido pelos rios franceses. A leste, os
reis da Germania eram os mais fortes monarcas do século X, dominando um reino
unido.
Oto, o
Grande da Alemanha
O mais importante soberano
alemão do período foi Oto o Grande.
Em 936, foi eleito rei da
Germania e em 955 derrotou os húngaros e conquistou o reino da Itália.
Em 962, Oto I, conhecido como
Oto, o Grande, foi coroado em Roma pelo papa João XII. Pretendia, assim,
suceder a Carlos Magno.
A
economia da Europa Ocidental no início da Idade Média
A economia baseava-se entre os
séculos VIII e XI na agricultura e no comércio local.
Nos séculos IX e X, a medida que
conseguiram se libertar da autoridade monárquica, alguns principados deixaram
aos reis um poder apenas teórico sobre seus territórios. A divisão e a
fragmentação interromperam a hegemonia franca na Europa Ocidental.
O baixo
nível da vida intelectual
O saber ou as artes eram pontos,
que não prosperaram. O saber era privilégio de poucos, muitos eram analfabetos.
Vimos que houve uma idéia do
conhecimento ao tempo de Carlos Magno, que não se transformou numa criatividade
verdadeira, pois sua realização foi a criação de escolas para ensinar o clero,
os elementos iniciais da leitura e da escrita. Mas isso foi suficiente para as
escolas e manuscritos sobreviverem em número suficiente para se tornarem base
de conhecimento bem mais amplo, que começou nos séculos XI e XII.
Literatura
No campo da literatura, a
produção do início da Idade Média foi escassa.
Isso aconteceu porque poucos
cristãos sabiam escrever, esses poucos eram monges e sacerdotes. Houve algumas
obras que foram escritas em latim: Beda Einhard.
Beowulf
É o épico anglo-saxão mais
conhecido dessa literatura. É uma narrativa de lutas de antigas lendas dos
povos germânicos no noroeste da Europa.
Os primeiros monumentos da arte
medieval antiga foram criados por monges da Irlanda.
O que sobreviveu dessa escola é
o “Livro de Kells”, uma coleção de evangelhos.
Variações
regionais na arte do início da Idade Média
A arte do período de Carlos
Magno Buscou inspiração nos modelos clássicos.
Após o declínio desse império
houve um cessar na história da arte ocidental.
No século X novas escolas
regionais surgiram:
n
inglesa - sobressaiu na
ilustração de manuscrito
n
alemã - comunica uma
admiração religiosa
n
norte da Espanha -
cristã, estilo decorativo da arte islâmica
No final da Idade Média, um novo
estilo surge - românico.
Uma
civilização européia ocidental com características próprias em 1.050
Observou que a Europa no ano
1.050 não teve muito progresso em relação aos séculos da Idade Média inicial.
Muitos europeus viviam à beira
da fome e eram mínimas as realizações culturais. Muito havia sido feito
transferindo-se para o noroeste atlântico, a civilização européia passou a usar
as terras que produziam riquezas agrícolas. Com as tradições desenvolvidas por
Gregório Magno, São Bonifácio, Pepino e Carlos Magno, a civilização européia
desenvolveu uma unidade cultural que se baseou no cristianismo ocidental e na
herança latina.
BY
PALMIRO SARTORELLI NETO